Faustino do Prado Xavier nasceu em c.1708 na pequena Vila de Mogi
das Cruzes, filho de um comerciante local nascido durante a travessia dos pais
do Reino para o Brasil. Estudos genealógicos indicam que há, pela parte do pai,
um parentesco próximo do nosso Padre com o inconfidente Joaquim José da Silva
Xavier, o Tiradentes, personagem histórico de vulto nacional, cujos avós saíram
de Mogi para as Minas Gerais.
A serventia de Faustino na prática musical ordinária da Vila foi de
curta duração. Em 1729, aos 21 anos foi nomeado pelo Bispo do Rio de Janeiro,
D. Fr. Antonio de Guadalupe, Mestre da Capela da igreja matriz - estando vago o
cargo - "pela muita perícia na arte da música"; esse superlativo já o
diferencia do indicativo de "perícia na Arte da música", costumeiro
nas provisões dadas pelos Bispos aos Mestres de Capela, bem como da
qualificação de "músico destro" que para outros aparece.
Além da Matriz, teve a seu cargo o mestrado da capela do Convento
local de N. Sr.ª do Carmo. Mas sua meta era o sacerdócio. Nem bem passaram
cinco anos, obteve o grau de presbítero (ordens menores) e assumiu a função de
Vigário Coadjutor da igreja matriz de Mogi. Desse modo, não pôde acumular a gestão
paroquial com a gestão oficial da música. Logo, alegando a "penúria de
sacerdotes" na Vila, tomou "as mais ordens" e passou a Vigário
titular. Em 1736, entretanto, já se transfere para fora da localidade. Serviu
de pároco (1742-1746)em Aiuruoca-MG e em outras paróquias da Capitania de S.
Paulo (documentadamente, como Vigário
Encomendado da matriz da Vila e Porto
de Santos a partir de 1751) até fixar-se na Sé de São Paulo. O sacerdócio era
efetivamente a sua vocação. Aos 18 anos fez a sua candidatura às "ordens
menores, e sacras", obtidas somente em 1732. O sacerdócio e o comércio.
Encontradas as partes musicais manuscritas, várias questões se
colocaram relativas ao contexto histórico-social e à organização da prática
musical, à autoria e à circulação das obras, além dos aspectos diretamente
ligados aos documentos, ou seja, a notação e o papel. Essas pesquisas têm
continuidade ainda hoje. Uma geografia da arte - e da música, em particular -
na antiga Capitania de S. Paulo é uma empreitada doravante necessária para
melhor entendimento das obras preservadas.
Fonte: Revista Eletrônica de
Musicologia, vol. 1.2/Dezembro de 1996
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