Leonardo di Ser Piero da Vinci, ou
simplesmente Leonardo da Vinci , foi um polímata nascido na atual Itália, uma
das figuras mais importantes do Alto Renascimento, que se destacou como
cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor,
arquiteto, botânico, poeta e músico. É ainda conhecido como o percursor da
aviação e da balística. Leonardo frequentemente foi descrito como o arquétipo
do homem do Renascimento, alguém cuja curiosidade insaciável era igualada
apenas pela sua capacidade de invenção. É considerado um dos maiores pintores
de todos os tempos e como possivelmente a pessoa dotada de talentos mais
diversos a ter vivido. Segundo a historiadora de arte Helen Gardner, a
profundidade e o alcance de seus interesses não tiveram precedentes e sua mente
e personalidade parecem sobre-humanos para nós, e o homem em si misterioso e distante.
Leonardo era, como até hoje,
conhecido principalmente como pintor.
Duas de suas obras, a Mona Lisa e A Última Ceia, estão entre as pinturas
mais famosas, mais reproduzidas e mais parodiadas de todos os tempos, e sua
fama se compara apenas à Criação de Adão, de Michelangelo. O desenho do Homem Vitruviano, feito por
Leonardo, também é tido como um ícone cultural, e foi reproduzido por todas as
partes, desde o euro até camisetas. Cerca de quinze de suas pinturas
sobreviveram até os dias de hoje; o número pequeno se deve às suas experiências
constantes e frequentemente desastrosas
com novas técnicas, além de sua procrastinação crônica.Ainda assim,
estas poucas obras, juntamente com seus cadernos de anotações que contêm desenhos, diagramas científicos, e
seus pensamentos sobre a natureza da pintura
formam uma contribuição às futuras gerações de artistas que só pode ser
rivalizada à de seu contemporâneo, Michelangelo.
Leonardo é reverenciado pela sua
engenhosidade tecnológica; concebeu ideias muito à frente de seu tempo, como um
protótipo de helicóptero, um tanque de guerra, o uso da energia solar, uma
calculadora, o casco duplo nas embarcações, e uma teoria rudimentar das placas
tectônicas. Um número relativamente pequeno de seus projetos chegou a ser
construído durante sua vida mas algumas de suas invenções menores, como uma
bobina automática, e um aparelho que testa a resistência à tração de um fio,
entraram sem crédito algum para o mundo da indústria. Como cientista, foi
responsável por grande avanço do conhecimento nos campos da anatomia, da
engenharia civil, da óptica e da hidrodinâmica.
Leonardo
da Vinci é considerado por vários o maior gênio da história, devido a sua
multiplicidade de talentos para ciências e artes, sua engenhosidade e
criatividade, além de suas obras polêmicas. Num estudo realizado em 1926 seu QI
foi estimado em cerca de 180.
De
tempos em tempos, o Céu nos envia alguém que não é apenas humano, mas também
divino, de modo que através de seu espírito e da superioridade de sua
inteligência, possamos atingir o Céu.
Em 1469, com dezessete anos,
Leonardo passou a ser aprendiz de um dos mais bem-sucedidos artistas de seu
tempo, Andrea di Cione, conhecido como Verrocchio. O ateliê de Verrocchio
estava no centro das correntes intelectuais de Florença, o que garantiu ao
jovem Leonardo uma educação nas ciências humanas. Outros pintores famosos que
passaram por um aprendizado neste mesmo ateliê foram Ghirlandaio, Perugino,
Botticelli e Lorenzo di Credi. Leonardo foi exposto desde cedo a uma vasta gama
de técnicas, e teve a oportunidade de aprender desenho técnico, química,
metalurgia, mecânica, carpintaria, a trabalhar com materiais como couro e
metal, fazer moldes, além das técnicas artísticas de desenho, pintura,
escultura e modelagem.
Boa
parte da produção de pinturas do ateliê de Verrocchio era feita por seus
funcionários. De acordo com Vasari, Leonardo colaborou com Verrocchio em seu O
Batismo de Cristo, pintando o jovem anjo da esquerda, que segura a túnica de
Jesus de maneira tão superior ao seu próprio mestre que Verrocchio teria
decidido nunca mais pintar. Isto
provavelmente é um exagero; mas um exame atento da pintura mostra que existem
diversos retoques feitos sobre a têmpera utilizando a nova técnica de pintura a
óleo, como o cenário, as rochas que podem ser vistas ao fundo e boa parte da figura
do próprio Jesus, todas testemunhas da mão de Leonardo.
O
próprio Leonardo pode ter sido o modelo para duas obras de Verrocchio,
incluindo a estátua de bronze de David, no Bargello, e o Arcanjo em Tobias e o
Anjo. Na altura apenas se disse que a estátua de David tinha sido inspirada num
dos mais belos aprendizes do atelier de Verrocchio.
Em
1472, com vinte anos de idade, Leonardo se qualificou para o cargo de mestre na
Guilda de São Lucas, uma guilda de artistas e doutores em medicina, porém mesmo depois de seu pai ter montado seu
próprio ateliê, sua ligação com Verrocchio permaneceu tal que ele continuou a
colaborar com ele. Aos poucos, as pessoas da corte passam a fazer encomendas
diretamente a Leonardo. Sua obra mais antiga a ser datada é um desenho em pena
e tinta do vale do Arno, feito em 5 de agosto de 1473.
Leonardo da Vinci, juntamente com mais três
alunos do ateliê de Verrocchio, foram acusados de sodomia; segundo a acusação referente a Leonardo, ele
teria tido relações homossexuais com Jacopo Saltarelli, um jovem de 17 anos
muito popular à época em Florença como prostituto.13 Diante, no entanto, da
falta de provas concretas que confirmassem semelhante acusação, Leonardo foi
absolvido. A partir desta data até 1478 não existem registros nem de obras suas
nem de seu paradeiro, embora se costuma presumir que Leonardo tenha estado no
ateliê, em Florença, entre 1476 e 1481. Em 1478 foi-lhe encomendada a pintura
de um retábulo para a Capela de São Bernardo, e a Adoração dos Magos, em 1481,
para os monges de San Donato a Scopeto. Esta importante encomenda foi
interrompida com a ida de Leonardo para Milão.
Em 1482, Leonardo, que de acordo com
Vasari era um músico muito talentoso, criou uma lira de prata, com a forma da
cabeça de um cavalo. Lourenço de Médici,
grande humanista, enviou Leonardo, a portar a lira como um presente, a
Milão, para selar a paz com Ludovico Sforza, Duque de Milão não oficial. Foi
nesta época que Leonardo da Vinci escreveu uma carta a Ludovico, citada
frequentemente, na qual ele descreve as coisas diversas e maravilhosas que
conseguia realizar no campo da engenharia, e informando o seu senhor que ele
também podia pintar.
Leonardo
continuou a trabalhar em Milão, entre 1482 e 1499. Recebeu a encomenda de
pintar a Virgem dos Rochedos para a Confraria da Imaculada Conceição, e a
Última Ceia para o mosteiro de Santa Maria delle Grazie. Enquanto vivia em
Milão, entre 1493 e 1495, Leonardo listou uma mulher, chamada Caterina, entre
seus dependentes, nas suas declarações de imposto de renda. Quando ela morreu,
em 1495, a lista dos gastos com o funeral sugere que ela pode ter sido sua mãe.
Leonardo
começou a fazer os projetos detalhados para a sua fundição; Michelangelo, no
entanto, sugeriu, de maneira indelicada, que Leonardo seria incapaz de fazê-lo.
Em novembro de 1494 Ludovico usou o bronze para fabricar canhões, visando
defender a cidade da invasão de Carlos VIII da França.
Ao retornar a Florença, em 1500, foi
recebido, juntamente com sua família e criadagem, pelos monges servitas do
mosteiro de Santissima Annunziata, onde tinha à sua disposição um ateliê. Foi
ali que, de acordo com Vasari, criou o desenho da Virgem, o Menino, Sant'Ana e
São João Batista uma obra que conquistou
tanta admiração que homens e mulheres, jovens e velhos vinham vê-la, em massa,
como se estivessem frequentando um grande festival.
Em
1502, Leonardo passou a trabalhar para César Bórgia, filho do papa Alexandre
VI, atuando como arquiteto e engenheiro militar, e viajando por toda a Itália
com seu patrão; é nessa viagem que conhece Nicolau Maquiavel. Retornou a
Florença, onde voltou a fazer parte da Guilda de São Lucas, em 18 de outubro de
1503; recebeu a encomenda de um retrato: a Mona Lisa, e passou os dois anos
seguintes desenhando e pintando um grande mural da Batalha de Anghiari para a
Signoria, enquanto Michelangelo foi responsável pela peça que a acompanhava, A
Batalha de Cascina. Ainda em Florença, em 1504, fez parte de um comitê formado
para transferir, contra a vontade do próprio autor, Michelangelo, a célebre
estátua do Davi.
Foi de Francisco que Leonardo
recebeu a encomenda de construir um leão mecânico, que pudesse caminhar para a
frente, e abrir seu peito, revelando um ramalhete de lírios. Em 1516, passou a
trabalhar diretamente a serviço de Francisco, e foi-lhe concedido o solar de
Clos Lucé, próximo à residência do rei, no Castelo de Amboise. Foi aqui que ele
passou os três últimos anos de sua vida, acompanhado por seu amigo e aprendiz,
o conde Francesco Melzi, e sustentado por uma pensão que totalizava 10 000
escudos.
Leonardo
morreu em Clos Lucé, em 2 de maio de 1519. Francisco havia se tornado um grande
amigo; e Vasari relata que o rei segurava a cabeça de Leonardo em seus braços
quando este morreu embora a história,
amada pelos franceses e retratada em pinturas românticas de artistas como
Ingres e Angelica Kauffmann, possa ser mais lenda do que realidade. Vasari
também conta que, em seus últimos dias, Leonardo teria pedido que um padre lhe
fosse trazido, para que se confessasse e recebesse a extrema unção. De acordo
com o que pediu em seu testamento, sessenta mendigos seguiram o seu cortejo.
Foi enterrado na Capela de Saint-Hubert, no Castelo de Amboise. Melzi foi o
principal herdeiro e inventariante, e recebeu, além de todo o dinheiro de Leonardo,
todos os seus cadernos, ferramentas, sua biblioteca e seus objetos pessoais.
Leonardo também se lembrou de seu antigo pupilo e companheiro, Salai, e de seu
criado, Battista di Vilussis; cada um recebeu uma metade das vinhas de
Leonardo, sendo que de Salai tornaram-se posses as pinturas que acompanhavam o
mestre desde então. Seus irmãos também receberam terras, e sua criada recebeu
um manto negro de bom material, com as bordas de pele.
Cerca
de vinte anos após a morte de Leonardo, o rei Francisco teria falado, segundo o
escultor Benvenuto Cellini: "Nunca nasceu no mundo outro homem que
soubesse tanto quanto Leonardo, nem tanto por seus conhecimentos de pintura,
escultura e arquitetura, mas por ele ter sido um grande filósofo."
Ao
longo da vida de Leonardo, seu extraordinário poder de inventividade, sua
"espetacular beleza física", "graça infinita", "grande
força e generosidade", "espírito régio e tremendo alcance
mental", como foram descritos por Vasari, atraíram a curiosidade daqueles
que o cercavam. Diversos autores especularam sobre os vários aspectos da
personalidade de Leonardo; um deles, a sua adoção de éticas e práticas
pessoais, que podem ser ocasionadas de sua crescente admiração pela natureza e
suas criaturas, como pode ser exemplificado por seu vegetarianismo e o hábito,
descrito também por Vasari, de comprar pássaros engaiolados e libertá-los.
Leonardo
não foi um pintor prolífico, mas foi o mais prolífico desenhista (projetista),
mantendo diários cheios de pequenos rascunhos e desenhos detalhados registrando
todas as coisas que lhe chamavam atenção. Juntamente com os diários, existem
diversos estudos de pinturas, alguns dos quais podem ser identificados como
preparações para trabalhos específicos como A Adoração dos Magos, a Virgem dos
Rochedos e A Última Ceia. Seu desenho mais antigo, é o Vale do Arno (1473), que
ostenta as montanhas tão frequentes em suas obras.
Alguns historiadores e especialistas
concluem que Leonardo gostava muito de distorcer coisas como em um
quebra-cabeça. Muitos acham que sua escrita invertida era um código que
protegia seus esboços contra espiões. Segundo Bruce Peterson, da RYP Australia
Major Projects, Leonardo da Vinci escrevia assim porque era canhoto e não
queria borrar os textos que criava febrilmente. Já historiadores acreditam que
esta escrita era um sinal de que Leonardo da Vinci tinha dislexia, pois
escrevia de forma embaralhada e às vezes gostava de formar anagramas.
Arquitetura
militar
Durante
seu período em Milão com Ludovico Sforza, Leonardo projetou vários prédios com
armas de guerra e reforços. Sua habilidade para arquitetura militar contribuiu
para sua fama entre os Sforza.
Entre seus mais formidáveis projetos
militares está uma escada para uso numa torre fortificada. O projeto incluía
quatro rampas independentes de outras. Assim, os soldados podiam subir e descer
de 4 andares sem esbarrar em grupos de soldados que iam em direção contrária.
Em
1502, Leonardo projetou um fosso interessante. Ele escondeu uma torre
cilíndrica debaixo d'água com um teto levemente inclinado que saía um pouco da
superfície da água. Os defensores que estivessem dentro da torre poderiam
disparar suas armas através da superfície da água. Feno molhado cobria o teto
da torre contra os danos causados pelos disparos.
Leonardo
projetou também um castelo com sistema triplo de segurança. Um dos cantos dessa
construção tinha duas fortificações: a primeira estendia-se até o canto do
forte e a outra estendia-se sobre parte da parede externa.
Engenharia
e invenções
Durante
sua vida, Leonardo era valorizado como um engenheiro. Em uma carta a Ludovico
Sforza, o duque de Milão, afirmou ser capaz de criar todos os tipos de
máquinas, tanto para a proteção de uma cidade, quanto para o cerco. Quando ele
fugiu para Veneza em 1499, encontrou emprego como engenheiro e arquiteto
militar e concebeu um sistema de barricadas móveis para proteger a cidade de um
ataque naval. Ele também tinha um esquema para desviar o fluxo do rio Arno, um
projeto no qual também trabalhou Nicolau Maquiavel. Os cadernos de Leonardo
incluem um vasto número de invenções, alguns de possível construção, outros
impossíveis. Eles incluem instrumentos musicais, bombas hidráulicas, canhões,
entre outros.
Em
1502, Leonardo da Vinci produziu um desenho de uma ponte como parte de um
projeto de engenharia civil para o sultão Bayezid II de Istambul. Nunca foi
construída, mas a visão de Leonardo foi ressuscitada em 2001 quando uma ponte
menor, baseada no projeto dele, foi construída na Noruega. Em 17 de maio de
2006, o governo turco decidiu construir a ponte de Leonardo para medir o Corno
de Ouro.
Por
maior parte de sua vida, Leonardo foi fascinado pelo fenômeno de voo,
produzindo muitos estudos detalhados do voo dos pássaros, incluindo o seu Codex
sobre o Voo dos Pássaros de 1505, bem como planos para várias máquinas
voadoras, tentou aplicar seus estudos para os protótipos que desenhou, o
primeiro batizado de SWAN DI VOLO (Cisne voador), segundo especialistas é de
1510, inclusive um helicóptero movimentado por quatro homens, e um planador
cuja viabilidade já foi provada.
Leonardo,
o mito
Em
vida, a fama de Leonardo foi tamanha que o rei da França levou-o como um
troféu, o mantendo na velhice, e o tinha preso nos braços quando morreu. O
interesse por Leonardo nunca afrouxou. As multidões ainda fazem filas para ver
suas obras mais famosas, seu desenho mais famoso, hoje é estampa de camisetas e
escritores, como Vasari, continuam a maravilhar-se com seu gênio e especular
sobre sua vida privada e, particularmente, sobre o que uma pessoa tão
inteligente realmente acreditava intimamente.
Giorgio
Vasari, na edição ampliada de Le vite de' più eccellenti pittori, scultori e
architettori, 1568, apresenta o seu capítulo sobre Leonardo da Vinci com as
seguintes palavras:
No
curso natural dos acontecimentos, muitos homens e mulheres nascem com talentos
notáveis, mas, ocasionalmente, de uma maneira que transcende a natureza, uma
única pessoa é maravilhosamente dotada pelo céu com a beleza, graça e talento
em abundância tal que ele deixa os outros homens para trás, todas as suas ações
parecem inspiradas e, na verdade tudo o que faz claramente vem de Deus e não da
habilidade humana. Todos reconhecem que isso era verdade em Leonardo da Vinci,
um artista de beleza física excepcional, que mostrou infinita graça em tudo que
ele fez e que cultivou seu gênio tão brilhante que todos os problemas que
estudou, ele resolveu facilmente.
O
século XIX trouxe uma admiração especial pelo gênio de Leonardo, fazendo com
que Henry Fuseli escrevesse em 1801: Tal foi o alvorecer da arte moderna,
quando Leonardo da Vinci quebrou adiante com um esplendor que afastasse a
excelência anterior: formada por todos os elementos que constituem a essência
do gênio (...) Isto é ecoado por A. E. Rio, que escreveu em 1861: Ele elevou-se
acima de todos os outros artistas com a força e a nobreza de seus talentos.
O
interesse pelo gênio de Leonardo continuou inabalável; especialistas estudam e
traduzem seus escritos, analisam suas pinturas com técnicas científicas,
discutem sobre atribuições e buscam por trabalhos que nunca foram encontrados.
Liana Bortolon, escrevendo em 1967, disse: Por causa da multiplicidade de
interesses que lhe incentivou a buscar cada campo do conhecimento (...)
Leonardo pode ser considerado, muito justamente, ter sido um gênio universal
por excelência, e com todas as implicações inerentes a esse inquietante termo.
O homem é como um incômodo hoje, enfrentado como o gênio, como era no século
XVI, cinco séculos se passaram, mas continuamos a ver Leonardo com temor.